Se é verdade que a humanidade surgiu no continente africano, tenho para mim que a vuvuzela foi a primeira forma de doping conhecida.
Toda vez que uma corneta daquelas era soprada, um australopitecus saía em disparada, talvez contagiado pelo som, talvez pelo susto, ou ainda, e mais provavelmente, pelo medo de ficar eternamente surdo.
É possível que essa fosse a grande aposta sul-africana no mundial de 2010.
Mais do que ter o apoio da torcida, mais do que ter a simpatia do resto do mundo, mais do que contar com o clima da competição e mais até do que contar com o clima propriamente dito que, dizem, faz interior de freezer parecer colônia de férias.
Os bafanas tinham nas vuvuzelas a carta carimbada do Super Trunfo.
Só não contavam com o velho espírito de porco uruguaio, que insiste em se manifestar em estádios tomados pela torcida da casa.
Nesse momento não restam muitas esperanças aos sul-africanos, principalmente porque a arma usada no mundial de rugby – um pedido pessoal do Mandela para o time ser campeão – parece fora de cogitação pelo seu estado de saúde debilitado. Ou porque um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Ou as duas coisas.
De qualquer forma, a simpatia pela seleção dos bafana-bafana continua e certamente muitos de nós estaremos torcendo para que um milagre possa acontecer na próxima terça-feira. No futebol e na vida tudo é possível.
Ainda mais quando se tem milhões de vuvuzelas berrando no seu pé-de-ouvido.
*Rafael Klein é publicitário.
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